10/12/2015

Lispector, Lispector: 38 anos sem a Grande Bruxa da Literatura Brasileira

Ontem (09 de dezembro), fez 38 anos desde que a grande Clarice Lispector faleceu. Uma das maiores influências na literatura brasileira, Clarice foi uma mulher de grande personalidade e ar misterioso. Tanto, que suas obras literárias são objeto de estudo de diversos especialistas no mundo, e muitos deles ainda não conseguiram desvendar as complexidades que existiam por trás das palavras de Lispector.

Considerada a maior romancista do Brasil (não é para menos), ela escreveu para jornais desde cedo, e possui diversas crônicas que foram publicadas no Jornal do Brasil, possui 9 romances, 9 livros de contos, 4 livros infantis, e fora 11 livros publicados postumamente (com compilados de crônicas e contos que ela havia escrito).

Clarice escreve de uma forma bagunçada. Como se não se incomodasse em passar para o papel tudo o que lhe vinha à mente, por mais que não se encaixasse no texto desenvolvido. E, apesar da forma 'bagunçada', ela criou seu próprio estilo de fazer de sua escrita uma verdadeira arte, extremamente revolucionária para a época que viveu, trazendo diversas reflexões sobre a alma humana.

Um exemplo de mulher, uma inspiração de escritora.

Reuni algumas obras da grande escritora, para quem não leu nada que ela já tenha escrito, vale a pena a leitura. Mas mergulhe com todo seu coração nas obras de Clarice, pois ela vai transbordar sua alma!

Sinopse: A escultora G.H. nos conta sua experiência vivenciada a partir do instante em que entra no quarto da ex-empregada, vê o surgimento de uma barata no guarda-roupa e a esmaga na porta. Daí em diante, tomada por uma mistura de medo e repulsa, G.H. vive com a barata durante horas e horas a sensação de ter perdido a sua "montagem humana". A incapacidade de dar forma ao que lhe aconteceu, a aceitar este estado de perda, a leva a imaginar que alguém está segurando a sua mão. Desta maneira, o leitor passa a viver junto com a personagem esta experiência singular.

Trechos: “O que eu era antes não me era bom. Mas era exatamente desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. (…) Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.

“Minha pergunta, se havia, não era: “que sou”, mas “entre quais sou”.


Sinopse: Como em todas as obras de Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres é um ponto de vista feminino a respeito da vida. Lóri, na verdade, é a personagem central, enquanto Ulisses ocupa um papel secundário, mero referencial para os pensamentos e atitudes de Lóri. O livro conta, acima de tudo, a viagem empreendida por Lóri em busca de si própria e do prazer sem culpa. Uma viagem na qual Ulisses funciona como um farol, indicando onde estão os perigos e o caminho correto para a aprendizagem do amor e da vida.

Trechos: "E 'eu te amo' é um farpa que não pode se podia tirar com uma pinça." 

"E o que o ser humano mais aspira é tornar-se 'humano'." 

"Você precisa andar de cabeça levantada, você tem que sofrer porque você é diferente dos outros (...) Você não precisa de companhia para ir, você mesma é bastante. 


Sinopse: Este livro póstumo de contos, A bela e a fera, apresenta ao leitor duas Clarices: a primeira, uma jovem aflita, com imaginação de extrema vitalidade, que, aos 14 anos, começa a inventar histórias e a escrever contos insólitos que têm como marca a expressão de intensos impulsos emocionais. Clarice Lispector perdera pouco antes sua mãe, que já conhecera paralítica. A menina de 1940 carregava uma dor dupla: a perda da mãe, com quem mal pudera se relacionar, e o martírio de não tê-la salvo da enfermidade ao nascer, conforme a previsão dos médicos. Foi neste contexto que, a partir de 1940, surgiram os contos da primeira parte do livro. Mas o sofrimento é de gente grande, dores maduras, que a autora cultivava há muito tempo, apesar dos poucos 14 anos. Mas nem assim Clarice perde o humor.

Trecho: “Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobrenada e que não é o vital; o “mal de muitos” é consolo, mas não é solução”

Sinopse: A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante estão sempre acompanhados por convites constantes ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.

Trechos: "Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

"Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte: já que sou, o jeito é ser." 

"Ela acreditava em anjo, e porque acreditava, eles existiam."

"A vida é um soco no estômago."

“Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta, continuarei a escrever.” 

(De todos os livros da Lispector que já li, este é o que possui meus quotes favoritos! ♥). 

Sinopse: Em 'Água Viva', a autora se confunde com a personagem, uma solitária pintora que se lança em infinitas reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam, a especialidade da própria Clarice. Traz uma linguagem ricamente metafórica, em que coisas, ações e emoções do dia-a-dia se transformam em grandiosas digressões indagadoras sobre o sentido da existência e da vida. Seguindo a linha de características introspectivas de seus livros, cria, em 'Água Viva', uma obra singular, verdadeiro relato íntimo que projeta em flashes, verdadeiros resumos de estados de espírito em tom de confidência, onde a subjetividade sobrepuja o factual e a narradora é responsável pela cadência do texto.

Trechos: “Ao escrever não posso fabricar como na pintura, quando fabrico artesanalmente uma cor. Mas estou tentando escrever-te com o corpo todo, enviando uma seta que se finca no ponto tenro e nevrálgico da palavra.”

“Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos.”

Gostaram? Sou uma grande admiradora da obra de Clarice, então indico que leiam todos os livros dela. Mas tomem cuidado: Apreciem com moderação! 

4 comentários:

  1. Realmente, ninguém se compara a Grande Bruxa da Literatura Brasileira, assim como ninguém se compara ao Bruxo do Cosme Velho (Machado de Assis). Os bruxos detêm o poder, haha.

    É um tipo de leitura que deve ser apreciada com moderação mesmo, por causa da alquimia literária, suficientemente intensa para fragmentar e reconstruir a personalidade de alguém mais sensível. Como a própria Clarice adverte na introdução de A Paixão Segundo G. H.: "eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada."

    Uma autora extraordinária, cujo nome foi sequestrado e saturado pela cultura popular. A Clarice Lispector de rede social, feita de citações distorcidas/descontextualizadas, não tem quase nada em comum com a verdadeira Clarice Lispector.

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    1. Hahah, esses bruxos são mesmo incomparáveis.

      As obras de Clarice só funcionam para aqueles que sabem apreciá-la na medida correta. Nem muito, nem pouco. Na medida.

      Clarice foi uma mulher sensacional. Mais do que frases distorcidas podem representar pela internet.

      Abraços.

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  2. Postagem muito relevante. Gosto muito quando colocam não apenas as sinopses, mas também os trechos.

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    1. Obrigada, Clara!

      Tentei selecionar os melhores trechos, haha.

      Abraços.

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