15/04/2015

Das coisas que eu te diria!


Ei, Ju! Estava pensando esses dias em lhe escrever, sem ter a mínima do que poderia te dizer. Seria bom se de algum modo você pudesse encontrar essas coisas que agora lhe escrevo, mas sei que não será possível.

Ainda não inventaram uma máquina do tempo, na qual eu poderia mandar uma carta para mim mesma, quatro anos antes do tempo em que vivo agora. Bem, como não posso fazer isso, vou fingir que esse paradoxo de espaço-tempo não existe, e que você ainda receberá essa carta.

Sei que nesse momento, você acabou de voltar da escola. Se acha que estudar de manhã é ruim, tendo a sua escola praticamente na esquina de casa; espere só para ver como será daqui dois anos, quando você tiver que trabalhar em outra cidade, nesse horário, e ainda, ir para o colégio durante a noite.

É cansativo, mas devo lhe confessar que sua vida sem correria, seria muito chata. É bom ter um agito, e olha, desses quatro anos para cá, muita coisa irá mudar. Só posso lhe garantir, que para melhor.
Não se preocupe agora com a solidão. Esse pode até ter sido um dia triste mas as coisas estão para mudar, e será em breve.

Eu sei do que estou falando. Pode confiar!

Sei de todos os seus pesares. Essa dor que você carrega no peito, pode até ser bem angustiante, eu sei, mas passa. Assim como todas as coisas na vida, que vem e vão e prosseguem nesse caminho, como em uma imensa roda-gigante.

E de todas as voltas que o mundo deu durante esses quatro anos, te garanto que na maioria você soube se equilibrar bem após um tropeço, mas vez ou outra, o tombo é inevitável. O máximo que você vai conseguir, são uns arranhões e a lição de por qual caminho deve parar de andar.

Sei que neste momento, tanta coisa pode estar lhe pesando a mente. Consigo te ver perfeitamente debruçada sob a fronha azul de seu travesseiro. Ou, como é típico, com os olhos marejados em lágrimas, em frente ao espelho do banheiro, se perguntando o que há de errado com você.

Por não conseguir encontrar em si mesma nenhum ponto digno de admiração. Te entendo, e sei que por mais que doa, agora, a sua falta de autoestima, isso também passa. E sendo bem sincera, quando a vida vai avançando, suas prioridades mudam, e aquelas coisas que nesse momento doem fundo no peito, um dia, quando olhar para trás, só perceberá o quanto aquilo te ajudou a progredir. É quando perceberá que aquela que era você, acabou se tornando eu. Sinto muito por ter matado parte de você dentro de mim, mas foi necessário.

Eu precisava ter a ousadia de ser a pessoa que você sempre quis, mas nunca teve coragem de ser, entende? Precisava encontrar um recomeço para essa alma melancólica que lhe comprime o peito. Não que eu tenha deixado a melancolia, pera lá!

Uma poetisa precisa apenas de uma bagunça na alma, e transformar seus pensamentos em versos. Mas sei de suas inseguranças. Elas invadem vez ou outra também. Mas se eu pudesse estar aí com você, apenas te enlaçaria em meus braços, e te diria para seguir em frente.

Enfrente!

Enxugaria suas lágrimas, e te falaria das coisas boas que a vida ainda lhe reserva. Te diria, que por mais perdida que você esteja nesse momento, você irá se encontrar. Falaria que se as coisas não ocorreram da forma como você havia planejado, é porque aquele não era o momento certo para que ocorresse. Ou talvez, algo só não tenha dado certo, para que outra coisa muito melhor tomasse seu lugar.

Te abraçaria, e te faria entender que a vida é como um livro que ainda está sendo escrito, e se você não gosta de mudar os próximos capítulos, para que você não chegue no final, sem ter vivido metade das coisas que gostaria de ter feito.

Te alertaria, que embora sua vida esteja em suas mãos, e cabe a você mesma modificá-la; nem sempre tudo estará sob o seu controle, e que tantas vezes, quando algo dá errado, é apenas para abrir caminho para o que pode ser melhor ainda.

A vida é imprevisível. Mas você deve saber aproveitar todos os caminhos. Te diria para curtir mais a companhia das pessoas que estão ao seu redor. Nunca se sabe até quando elas estarão com você. Evite uma vida repleta de "eu deveria ter feito". No lugar disso, ouse e se permita mais o "eu fiz, e não me arrependo."

Aproveite a vovó enquanto você ainda pode. Se você soubesse o quão próxima está de perdê-la, pararia de reclamar tanto da mesma macarronada aos domingos, e apreciaria mais as coisas que ela faz por você. Use para a sua vida todos os bons exemplos que ela já lhe deu.

Te diria, para ter mais confiança em si mesma, e nas coisas que poderá alcançar. Você se subestima demais, e parece não ser capaz de acreditar em si mesma. Pelo menos isso mudou, lhe garanto, mas gostaria que tivesse isso desde essa época. A confiança. Em si mesma. Em sua capacidade. A mais pura confiança, sem nenhum motivo a mais para ser assim.

Se você soubesse as coisas boas que aconteceram nesses quatro anos que nos separam, não seria tão coitadista para consigo. E isso, só do pouco que amadurecemos em quatro anos. Imagina então, quantas serão as surpresas boas em mais quatro anos?

Por isso, se pudesse, diria para ir levando a vida de forma mais leve. Se preocupe com certas coisas, mas não deixe que suas lamúrias dilacerem o seu sorriso, pois um dia, você finalmente irá entender, que todos aqueles motivos que te fizeram triste, não serão nada comparados aos motivos que te farão feliz por muito mais tempo.

Se pudesse estar aí, apenas te abraçaria. Enxugaria suas lágrimas, e te falaria todas as coisas boas que a vida lhe reserva.  Mas antes, precisará sair desse quarto escuro, e ter a ousadia de ser a pessoa que sempre quis, mas nunca teve coragem de ser.