26/12/2014

Anástrofe




Sou movida por fragmentos
de momentos
inacabados. 
De poesia perdida em verso, 
de canção sem melodia. 
De amores, 
sem sabores. 
De um amontoado de 
"bem-me-quer", 
envolvidos em tantos 
"mal-me-quer". 
De noites de insônia, 
de café gelado que nem efeito 
causa mais. 
De remédios que não curam a dor, 
de tempo que leva um amor. 
Sou movida por fragmentos. 
De meios que não 
conseguem 
tornar-se inteiros. 
De rotina que vira cansaço. 
De amores sem amasso. 
De madrugadas que jamais tornar-se-ão 
dias. 
De poesia sem verso, 
ritmo ou rima. 
De prosa sem discurso direto ou linha reta. 
Sou movida pelos pensamentos 
que me pesam. 
Pelos caminhos mal percorridos 
e deixados para trás. 
Movo-me em roda-gigante. 
Na eterna giratória. 
Ora para cima. 
Ora para baixo. 
E é nesses versos sem sentido ou rima, 
Que eu me acho. 

17/12/2014

Neil Gaiman: Make Good Art

Neil é um autor britânico, muito conhecido por sua obra Coraline, Deuses Americanos, Belas Maldições, Os Filhos de Anansi, O Oceano no fim do caminho, e diversas outras obras.

 Também é inspirador em suas palavras. Um discurso seu que ficou bem conhecido (e marcou a frase "Faça boa arte"), de 2012 para cá, foi dito numa colação de grau universitária. Suas palavras, além de terem aberto a mente de cada um que estava ali presente, também consagrou conselhos bacanas e inspiram, não só aqueles que estavam ali no momento, mas a qualquer um que tenha acesso ao que foi dito. 

Fui muito inspirada por suas palavras, então acho digno compartilhar com vocês, tanto o vídeo, quanto a transcrição do discurso: 

"Eu nunca realmente esperei me encontrar dando conselhos para pessoas se graduando em um estabelecimento de ensino superior. Eu nunca me graduei em um desses estabelecimentos. E nunca nem comecei um. Eu escapei da escola assim que pude, quando a perspectiva de mais quatro anos de aprendizados forçados antes que eu pudesse me tornar o escritor que desejava ser era sufocante.

Eu saí para o mundo, eu escrevi, eu me tornei um escritor melhor na medida em que escrevia mais, e eu escrevi um pouco mais, e ninguém nunca parecia se importar que eu estava inventando as coisas à medida que prosseguia, eles simplesmente liam o que eu escrevia e pagavam por isso, ou não, e frequentemente eles me encomendavam alguma outra coisa pra eles.

O que me deixou com um saudável respeito e admiração pela educação superior do quais meus amigos e familiares, que frequentaram universidades, se curaram há muito tempo atrás.

Olhando para trás, eu trilhei uma caminhada memorável. Não tenho certeza de que posso chamá-la de uma carreira, porque uma carreira implica que eu tivesse algum tipo de plano de carreira, e eu nunca tive. A coisa mais próxima que tive foi uma lista que fiz quando tinha 15 anos com tudo que eu queria fazer: escrever um romance para adultos, um livro infantil, uma revista em quadrinhos, um filme, gravar um áudio-book, escrever um episódio de Dr. Who… e assim por diante. Eu não tive uma carreira. Eu simplesmente fui fazendo a próxima coisa da lista.

Então pensei em contar para vocês tudo que eu gostaria de saber de saída, e algumas coisas que, olhando para trás pra isso, suponho que eu sabia. E também em dar o melhor conselho que já recebi, o qual falhei completamente em seguir.

O primeiro de todos: quando você começa em uma carreira nas artes você não tem ideia do que está fazendo. Isso é ótimo. As pessoas que sabem o que estão fazendo conhecem as regras, e sabem o que é possível e o que é impossível. Vocês não. E vocês não devem. As regras sobre o que é possível e impossível nas artes foram feitas por pessoas que não tinham testado os limites do possível indo além deles. E vocês podem.

Se vocês não sabem que é impossível é mais fácil fazer. E porque ninguém fez antes, não inventaram regras para evitar que alguém faça de novo, ainda.

Em segundo, se você tem uma ideia do que você quer fazer, sobre o que você foi colocado aqui para fazer, então simplesmente vá e faça aquilo. E isso é muito mais difícil do que parece e, algumas vezes, no fim, muito mais fácil do que você poderia imaginar.

Porque normalmente, há coisas que você precisa fazer antes de que você possa chegar aonde quer estar. Eu queria escrever quadrinhos e romances e histórias e filmes, então me tornei um jornalista, porque jornalistas têm permissão para fazer perguntas, e para simplesmente ir adiante e descobrir como o mundo funciona, e, além disso, para fazer essas coisas eu precisaria escrever e escrever bem, e eu estava sendo pago para aprender como escrever economicamente, claramente, às vezes em condições adversas, e em tempo.

Algumas vezes o caminho para fazer o que você espera fazer estará claramente delineado; e às vezes será quase impossível decidir se você estará ou não fazendo a coisa certa, porque você terá de balancear suas metas e esperanças, e alimentar-se, pagar as contas, encontrar trabalho, e se adequar ao que pode encontrar.

Uma coisa que funcionou para mim foi imaginar que onde eu gostaria de estar – um autor, principalmente de ficção, fazendo bons livros, fazendo bons quadrinhos e me mantendo através de minhas palavras – era uma montanha. Uma montanha distante. Minha meta.

E eu sabia que enquanto eu me mantivesse andando em direção à montanha eu estaria bem. E quando eu verdadeiramente não estava certo acerca do que fazer, eu podia parar, e pensar se aquilo estava me levando em direção à montanha ou me afastando dela. Eu disse não para trabalhos editoriais em revistas, trabalhos adequados que teriam pago um dinheiro respeitável porque eu sabia que, por mais atrativos que fossem, para mim eles estariam me deixando mais distante da montanha. E se essas ofertas tivessem aparecido mais cedo talvez as tivesse aceito, porque elas ainda me deixariam mais perto da montanha do que eu estava à época.

Eu aprendi a escrever escrevendo. Eu tendia a fazer qualquer coisa conquanto que parecesse uma aventura, e a parar de fazê-la quando parecia trabalho, o que significou que a vida não se parecia com trabalho.

Em terceiro lugar, quando você começa, você precisa lidar com os problemas do fracasso. Vocês precisam ser osso duro de roer, precisam aprender que nem todo projeto sobreviverá. Uma vida como freelancer, uma vida nas artes, é muitas vezes como colocar mensagens em garrafas, em uma ilha deserta, e esperar que alguém encontre uma de suas garrafas, e a abra, leia, e coloque algo em outra garrafa que fará seu caminho de volta até você: apreço, ou uma encomenda, dinheiro, ou amor. E vocês têm de aceitar que vocês poderão lançar uma centena de coisas para cada garrafa que aparecerá retornando.

15/12/2014

Para você, o que significa Ser Escritor?

Milhares de pensamentos tumultuam sua mente de uma só vez. Sentimentos vêm e vão, deixando marcas profundas, e muitas vezes cicatrizes dentro de nós. A vida lhe derruba de uma só vez, ou então, a alegria bate à porta e você não tem forças para tanto gritar. 

Gritar ao mundo enquanto está bem. Dizer, mesmo que não seja para ninguém, quando algo lhe fere. Escrever é estar cheio de si - quase transbordando - e querer compartilhar um pouquinho disso com alguém. Mesmo que seja para si mesmo. 


Talvez, escrever seja um processo literário de si para si. Ser escritor, é dar asas aos pássaros literários que existem dentro de nós. Libertar as borboletas que remoem nosso estômago, e deixá-los subir à cabeça - onde a criatividade reside - para retornar às pontas de nossos dedos - onde o pensar, torna-se o trabalho realizado. 


Escrever é ir de braços abertos ao encontro do vazio, e ser carinhosamente abraçado pelo emaranhado de palavras que se formam. É ir e vir, sem saber para onde ir, apenas tendo a certeza de que o caminho está ali sendo trilhado. 


É amar. É deixar a dor se esvair. Escrever, é permitir que as palavras dancem em sua mente, e que as palavras, tornem-se uma Orquestra, onde o maior maestro que existe - você mesmo -, dirige para qual espaço essas palavras, simples palavras, irão. 


Escrever, é ter algo a dizer ao mundo. Aquela coisa que você guarda no fundo do seu peito, mas já não cabe mais para si. É compartilhar, com outrem, aquela roupagem que já não lhe serve mais, ou que de tanto já serviu, precisa que outros a usem também. É tomar todas as dores do Universo, e fazer delas poesia. Aproveitar as alegrias, e colocar o seu sorriso, nos lábios de quem não conhece.


 É libertar-se das amarras que há muito o prendem. Ou, simplesmente, amarrar-se novamente - ao novo que transparece a cada amanhecer. É admitir à si mesmo que se errou, e acrescentar uma vírgula, onde perfeitamente caberia um ponto final. É amar, permitir que esse amor lhe transborde o peito, e partilhá-lo com quem o convém. 

É esperar encontrar um refúgio, quando o mundo lhe sufoca, e não tem-se para onde ir. Escrever, é encontrar emoção onde passa-se despercebido aos olhares alheios. É encontrar entre a irremediável angústia, a resposta para as tristezas que o acometem, e a mais tenra felicidade, invisível aos olhos preocupados. É o querer estar perto, quando os corpos estão separados. É procurar todas as analogias possíveis, para encontrar aquilo que só a sua alma é capaz de compreender. 


Escrever é tentar organizar as estrelas de seus pensamentos, em constelações. É fazer sentido. É se fazer sentido. É aquele processo que só se adquire quando se está em sintonia consigo. Ou quando tenta, através da palavra escrita, encontrar um meio de sintonizar-se seu corpo, à alma. A alma sente, e se transborda. O corpo, fica com a incrível tarefa de colorir e registrar, aquilo que está no nosso íntimo mais profundo. 

É deixar registrado à si mesmo o quanto o tempo modelou-a à sua vontade. Deixar um registro - como uma lágrima escorrida -, que aquilo que um dia jurou de pés juntos e palavras rabiscadas, que duraria para todo o sempre, só representou uma fase da sua vida, que assim como tudo nela, acabou. 
Escrever é a arte de ter algo a dizer, quando nem todas as palavras que conhecemos são capazes de expressar como nos sentimos. 

Escrever, é dançar conforme a música, mas deixar-se levar para outros passos não ensaiados. É encontrar luz onde só há solidão. É sentir-se protegido, quando a tempestade chega, é um amor sem medidas que nem nas mais doces palavras, caberiam. Ser escritor, é a arte de brincar consigo, na esperança de que um dia, essa brincadeira de palavras, serão as respostas das aflições de outrem. 

É permitir-se divagar, e criar um mundo somente seu. Existem milhares de escritores no mundo. Sempre existirão melhores que você, como piores também. Mas nenhum será capaz de tomar a sua voz, e dizer aquilo que só você pode. Nenhum poderá tocar e mudar as pessoas da forma como só você poderá. Já dizia Neil Gaiman. 

Então, o que está esperando? Deixe as palavras dançarem dentro de ti, e passe ao mundo aquilo que só você poderá passar. Tome seu papel de escritor, pois o meu, ah, o meu; já estou fazendo.